quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A abóbora se perdeu e se achou no mar, assim como Alice...

Ultimamente tenho visto muitas abóboras morangas por aqui... na estrada, quitandas, etc.
Muito bonitas, graúdas e vistosas...
Não resisti e, semana passada, saí a caça delas, para uma boa receita!
Na dúvida sobre o tamanho a comprar,  acabei comprando uma GRANDE, uma Média e uma pequena! rsrs
A grande, aproveitei uma visita a casa dos meus pais e fiz camarão na moranga. A média, acabei presenteando alguém e a pequena estava até hoje olhando pra mim da fruteira...
Hoje o tempo mudou por aqui e no cair da tarde, o vento gelando as canelas, lembrei da moranga! 

Aguei a boca pensando numa sopinha de abóbora quentinha. Corri colocá-la no forno pois, como sabem, demora assá-la inteira.
Como queria cozinhá-la inteira, lavei bem, cortei uma tampa nela e retirei toda a polpa com sementes. Embrulhei-a no papel alumínio e levei ao forno a 200º ... Sabia que levaria umas duas horas e, enquanto esperava, fiquei pensando quem teria tido a primeira ideia de servir uma iguaria dentro da moranga.
Aproveitei para elucubrar e pesquisar a respeito...


Adoro arte e adoro cozinhar... não só pela alquimia dos sabores e ingredientes mas também pela hora e maneira de servir o prato á alguém... a cenografia da coisa toda... e o prazer de proporcionar prazer através do que foi preparado!


E não é dificil ver a relação da arte de servir com as artes em geral!
Assim como Stela Morato em um artigo no site "Mexido de idéias
".

"A estética na apresentação de pratos já passou por tantos “movimentos” que podemos fazer paralelos com a história da arte. Desde a frugalidade grega à Idade Média, quando se praticava o “Prato Cenário” (com composições que passaram por alegorias quase carnavalescas), até chegar ao minimalismo da nouvelle cuisine e a nanotech da gastronomia molecular.  Os sucessivos animais recheados – codornas dentro de galinhas, patos e perus; ou cervos recheados de cabritos, porcos e carneiros, praticados nas côrtes europeias a partir do século XVI – esbanjavam um empenho cenográfico de deixar qualquer carnavalesco roxo de inveja. É possível acompanhar através da pintura, nas “naturezas mortas”, como essa linguagem de trazer os alimentos à mesa se modificou através dos tempos."

Depois de toda essa elucubração, encontrei uma versão dos fatos, sobre as morangas a mesa!

"Em Ubatuba fica localizada a Ilha Anchieta, é a 2ª  maior ilha do Litoral Norte paulista.O local abrigou na década de 30 um presídio político que foi desativado após uma grande rebelião. As ruínas do presídio que ali funcionou de 1904 a 1955, hoje são um grande atrativo turístico para quem visita a Ilha.Enquanto esteve em funcionamento, mais especificamente no ano de 1945, o presídio recebeu um grupo de presos políticos japoneses. E como é da cultura oriental esse grupo era bastante dedicado ao trabalho em atividades agrícolas e assim deram início ao cultivo de legumes e verduras na Ilha Anchieta. Acredita-se que de tanto andar descalço e comer peixe cru, junto com a falta de higiene que era muito comum nos presídios da época, acabaram adquirindo várias doenças, entre elas a esquistossomose, conhecida como barriga d’água, que é uma infecção por parasitas, muito comum entre pessoas que trabalham no campo. Um médico local sugeriu que tomassem remédios tradicionais, mas o grupo não aceitou e passaram a plantar abóbora. Pra quem não sabe a semente da abóbora é um poderoso vermifugo. E o problema foi resolvido.A novidade fez tanto sucesso que os moradores do continente começaram a comprar as abóboras plantadas na ilha e torrar as sementes para comer e curar suas moléstias. Ocorreu que durante uma das travessias da ilha para o continente uma das abóboras caiu no mar e afundou rapidamente pois havia um furo no lugar do talo. Passadas algumas semanas o fruto reapareceu cerca de 5 km de onde havia afundado, uma senhora que tinha um restaurante na praia da enseada encontrou o fruto e não pensou duas vezes, colocou a abóbora inteira para ser fervida. Ao abrir a tal abóbora descobriu que dentro tinha mais de dois quilos de camarão sete-barbas. Vendo aquilo e como boa cozinheira que era teve a brilhante idéia de retirar as sementes e adicionar cheiro-verde, folha de coentro, tomate, alho e cebola.  Estava descoberto mais um prato típico da culinária caiçara: “Camarão na Moranga”, prato este que passou a fazer parte do cardápio de muitos restaurantes litorâneos espalhados pelo Brasil." (Guia de praias)


Mesmo depois de tanta cenografia culinária, hoje me contento apenas com uma sopinha pra esquentar a noite fria... quem quiser se juntar, aí vai a receita...


Com um fio de azeite, frite um gomo de linguiça calabresa picada.

Depois de dourar bem a linguiça, acrescente uma cebola picada e um dente de alho.
Depois um tomate picado sem pele;
Molho inglês a gosto;
e mostarda escura a gosto.
Quando estiver tudo refogado, junte cebolinha picada e uma colher bem cheia de manteiga e desligue o fogo.
Tire a abóbora do forno, tire o máximo de polpa da parte interna, deixando uma espessura mínima para que a mesma ainda se sustente e coloque a polpa num liquidificador ou processador com um copo de requeijão, sal e ou temperos secos de sua preferência e 
três colheres de sopa de caldo de pimenta em conserva. (Esse detalhe faz toda diferença no sabor. Usei uma conserva de pimentas com um mix  de vários tipos. Dê preferência, neste caso, a conservas em vinagre do que azeite. São mais suaves na picancia  e o azedo combina no sabor.) Pode substituir por molho de pimenta de sua preferência ou pimenta do reino moída  ou ainda pimenta calabresa em flocos etc... fica a gosto.
Bata tudo até ficar um creme homogêneo. Despeje o creme no refogado e ligue o fogo novamente, uns minutinhos para apurar e juntar os sabores. Prove e acerte o sal.
Coloque o creme pronto dentro da moranga e sirva!






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