quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Vasculhando e tirando o pó do país das maravilhas...

Acho que todos já tivemos, pelo menos, uma fase, um momento de "Alice". De curiosidade, impeto de conhecer o mundo, dúvidas, angustias, dificuldade de nos adequarmos, quando queremos ser pequenos, nos sentimos gigantes, quando queremos ser gigantes sumimos dentro da roupa... até aprendermos a tirar proveito de uma certa inadequação e nos impomos. Assim nos diferenciamos e reconhecemos nossas qualidades individuais.
Mas acredito que passei um pouco da hora e me prolonguei um bocadinho nessa fase. Me viciei nessa sensação de correr o tempo todo atrás de um coelho e querer cada vez mais conhecer o novo, mais novo, mais e mais... Visitando constantemente esse tal país das maravilhas. Esse mundo, pra mim, é a arte, a criação, a fantasia, a epifania de ver concretizar, algo que antes era apenas pensamento...
E como já citei anteriormente, esse blog foi criado, também, pra que eu possa fuçar essas aventuras e tentar achar qual caminho devo trilhar novamente e tentar chegar mais adiante através dele... em qual esquina mudar a direção, que anteriormente tomei. E também compartilhar e continuar trilhando caminhos novos, mesmo sem ter encontrado ainda o destino certo. Afinal, não dá pra ficar parado apenas pensando... Então aqui o passado, presente e futuro se entrelaçarão constantemente...
Hoje relembro e compartilho a descoberta do pó, do gesso, da terra, do barro, mutante como massa, rígido como cerâmica...  


Nas estantes os livros ficam 
(até se dispersarem ou desfazerem) 
enquanto tudo 
passa. O pó acumula-se 
e depois de limpo 
torna a acumular-se 
no cimo das lombadas. 
Quando a cidade está suja 
(obras, carros, poeiras) 
o pó é mais negro e por vezes 
espesso. Os livros ficam, 
valem mais que tudo, 
mas apesar do amor 
(amor das coisas mudas 
que sussurram) 
e do cuidado doméstico 
fica sempre, em baixo, 
do lado oposto à lombada, 
uma pequena marca negra 
do pó nas páginas. 
A marca faz parte dos livros. 
Estão marcados. Nós também. 


























                           (Pedro Mexia, in "Duplo Império")



Alguns trabalhos, dos poucos que tenho registro, preciso tirar mais fotos. Eles se vão e... 




 
 Pé de Alice e Melissa (Gesso e tinta)



 (Parte do processo em argila, gesso e por fim papel)



 Serafim ( Papel, cola, gesso e tinta)



 (Escultura em giz escolar)  





                                                                                                       Série Meu pé (Gesso)

                                 
                                                                                                            Minha mão (Gesso)

                                 


Mãos de Alice (Gesso, madeira e tinta)

GESSO


Esta minha estatuazinha de gesso, quando nova
- O gesso muito branco, as minhas linhas muito puras -
Mal sugeria imagem da vida
(Embora a figura chorasse).
Há muitos anos tenho-a comigo.
O tempo envelheceu-a, carcomeu-a, manchou-a de
pátina amarelo-suja.
Os meus olhos, de tanto a olharem,
Impregnaram-na de minha humanidade irônica de tísico.

Um dia mão estúpida
Inadvertidamente a derrubou e partiu.
Então ajoelhei com raiva, recolhi aqueles tristes fragmentos,
recompus a figurinha que chorava.
E o tempo sobre as feridas escureceu ainda mais o sujo
mordente da pátina...
Hoje este gessozinho comercial
É tocante e vive, e me fez agora refletir
Que só é verdadeiramente vivo o que já sofreu
                                                                             (Manuel Bandeira)

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